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23.9.05

Uma Gota de Luz

Um fiapo de sol, uma luz aguada, intrusa no meio de tudo aquilo. Um pequeno instante de claridade, acesso de visão nítida que estremeceu o espírito - a esperança perturba. Agarrou-se a ele, quis prendê-lo, mas a luz não é matéria física e não pode ser mantida. Surgira antes que esperasse; havia se preparado tanto tempo, e agora que as células finalmente recebiam o fio de luz, ele se esvanecia, sem que se percebesse. A consciência abandonou-se em meio ao desejo, e o brilho refletido permaneceu memorizado na retina, como que ainda real, vivo, como que entre suas mãos.

E caminhou entre a escuridão como se visse tudo, como se agora não precisasse de mais nada, e a ilusão machucou seu corpo, fez esbarrar em tudo quanto pudesse ferir. Eram feridas do corpo, eram feridas da alma, e tudo podia ser escondido desde que ainda se acreditasse que aquele raio continuava atravessando o escuro. Por alguns instantes percebeu, mas não quis adequar-se e voltar à penumbra. Embora continuasse lá, tão presente quanto antes. A lembrança viva acossava o espírito, impedia que retornasse à normalidade acostumada. A recusa tornou-se incômoda, mas necessária, e quando se forçou a ser aceita, teve que admitir que a memória não era em vão, e que, assim como os cegos, os sentidos haviam se aguçado. De alguma forma, algo mais se desenvolvera, e não se podia negar.

Manteve-se na escuridão, embora não fosse a mesma diante de seus olhos.