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12.10.05

Eufemismo

Na penúria escondida sob as frases mais simplórias, qualquer coisa parecia inverossímil. Nada que é verossímil assusta. E no susto, ele percebeu que não precisava dos porquês. Interrogou seus artefatos não-mecânicos, presos sob a chancela da mesmice, e obteve com isso uma esquiva insuportável.

Nada ali devia ser confessado.

Enquanto tudo aquilo se perdia em uma bruma respeitável, podia-se acreditar que se vivia. Podia-se respirar, ir ao supermercado, marcar noitadas e acordar no dia seguinte com um cansaço satisfeito. Mas se o enquanto aquilo tudo era pouco e verossímil, e artificial e pesado, se nada do que ele pretendia e valorizava merecia seu respeito...

Havia de ser dito. E explorado. Mesmo que nada se pudesse revelar, ali estaria a chave para o não-saber, o não-querer, o não-despertar.

Por favor, deixem-me dormir. Meu sono é embriagante. Prefiro assim. Me deixa aqui, quieto, a contemplar o desprezível.