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6.12.05

Última vez?

Você sabe, eu não acordo no meio da noite. Meu sono é ininterrupto, ou inexistente. Quando a gente começa a falar dos nossos conceitos tão nossos de mundo, de relações, de pessoas e inexistências, a minha mente permanece em vigília. Mas quando eu me permito ficar na tua casa, e o silêncio preenche o pouco espaço entre nós dois, há um descanso completo do meu corpo, e eu só acordo com o som da água fervendo, do microondas marcando os segundos, dos teus pés cobrindo os azulejos do chão bem leve.

Ontem foi um pouco diferente.

Aquilo que você previu na minha expressão durante o dia, permaneceu inflamado, e eu dormi, acordei, várias vezes, marcando as horas com flashes estranhos do percurso da madrugada. Estava inquieta. Tinha decidido, mas tentava evitar. Tentava me dizer que não era necessário.

Quando eu levantei pra ver melhor teu rosto, sabia que seria a última vez. Que nos dias seguintes, quando eu te encontrasse, seria a uma distância maior, em todos os sentidos. Que seria a última vez a ouvir aquele som da noite passeando lá fora. (Aquela noite que ronda a tua casa é diferente da minha).

Foi por isso que eu marquei de leve a tua pele - pra lembrar, futuramente, do desenho que ela faz. Pra lembrar da leve ondulação no teu nariz. Das curvas dos ombros. Da temperatura. Da textura.

Levantei, andei até a cozinha, olhei pela janela, e não vi nada lá fora. Inconscientemente, ainda ouvia a tua respiração, prestava atenção no teu ritmo desencontrado do meu. Fiquei olhando também o bolo sobre a mesa, que fizemos durante a tarde, todo despedaçado, a cobertura de chocolate caindo pelos lados. Talvez fosse esse o gosto que eu iria lembrar.

Voltei para o quarto, e adormeci.

E na manhã seguinte, eu pensava que tinha decidido. Que havia sido a última vez. Que eu deveria me forçar a fazer o que era certo, embora o conceito de certo fosse tão difuso e vago. Não se baseava em moralismos, dependências ou regras sociais, apenas nos meus próprios padrões de decisão. Por eu me conhecer tão bem, e prever certas conseqüências.

Mas então eu escrevi isso, e ia deixar para você, só para você, e ia deixar no papel mesmo, que é mais pessoal. Foi só aí que eu repensei, e imaginei uma outra vez, uma permanência, uma continuação. Talvez os meus certos sejam temerosos demais. Talvez o errado seja obedecer à esquiva. Talvez você tenha razão em tudo que me disse dias atrás sobre a minha capacidade de ver certos detalhes como mais complexos do que realmente são. Eu vou ver, e talvez eu descubra novos conceitos, novas regras, daquelas pra te contar durante a madrugada, comendo o bolo que a gente fez durante a tarde, ouvindo aquelas músicas que eu não gosto, mas que são tão você, e que eu vim cantando hoje na volta pra casa, como se a mim pertencessem há muito tempo.

4 Comments:

  • isso me lembra um outro texto da senhorita que li faz um tempinho, claro que era também muito sensível como esse

    bjão querida

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, dezembro 07, 2005  

  • Ótimo Sheilinha, ótimo. Imagino um casal em conflito mas ao mesmo tempo amando-se o suficiente para continuarem juntos. Ótimo.

    By Anonymous Anônimo, at sábado, dezembro 10, 2005  

  • Cá estou (sim, sou uma caçadora de blogs irreparável) e, meu, é o que sempre digo: escrever é uma merda. Porque não dá para saber escrever tudo o que você gostaria, e eu certamente não tenho o menor jeito pra histórias sensíveis como essa. Se meu negócio é avacalhar, o seu é, com certeze, sensibilizar. E com mérito, hehe.

    By Blogger Mimi Merlot, at segunda-feira, dezembro 12, 2005  

  • adorei seu blog.

    visita o meu agora

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    By Anonymous Anônimo, at terça-feira, dezembro 13, 2005  

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