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29.6.07

1. APELIDOS, ESCONDERIJOS E AZULEJOS (ou simplesmente ovos mexidos).

A casa, embora fosse muito antiga, era também bastante grande. Cômodos e mais cômodos se aglutinavam em uma construção meio desordenada revestida de madeira velha. Remendos aqui e ali, como uma janela fora de contexto, completavam o cenário. Poucos móveis, muito espaço, muita coisa perdida, guardada, largada em algum canto ou sobre as mesas. Apesar de tão grande, contudo, os irmãos dormiam no mesmo quarto: ele, no andar de baixo do beliche; ela, no de cima. Como era mais velha, tinha a preferência de escolha. O beliche não fazia sentido, já que economia de espaço definitivamente não era necessário; mas nada ali fazia muito sentido mesmo.

A cortina, feita de tecido fino e claro, pendia inútil, já que era bem menor que o tamanho da janela. Quando amanhecia, a claridade, sem barreiras que a impedissem, invadia o quarto pouco a pouco e impedia que o sono durasse até muito tarde. Assim, os irmãos nem precisavam de despertador. Acordavam, arrumavam as camas, verificavam o quarto da vó-mãe-do-papai para ver se precisavam recolocá-la na cama (ela vivia caindo da cama enquanto dormia, e volta e meia, quando despertava, estava confortavelmente no chão), tomavam café-da-manhã, pegavam suas coisas e iam para a escola, numa caminhada diária de meia hora. Na volta, mais meia hora.

Caio aprendera a fazer ovos mexidos desde que alcançara o fogão. Ele fazia quase todo dia, comia com pão e um copo de leite com chocolate. Bianca sentava na frente dele e só tomava leite puro, gelado (pelo menos duas canecas), enquanto escolhia umas duas ou três frutas para ir comendo no caminho. Depois ia prender o cabelo, porque o caminho para a escola seguia a maior parte pela estrada que cortava a cidade. Os carros, passando a toda velocidade, podiam despenteá-la e fazê-la chegar toda descabelada na escola. Ao lado do beliche, no chão, ficava uma caixinha cheia de saquinhos com prendedores de cabelo, organizados por cor. Todos os dias, enquanto Caio terminava de comer o pão e os ovos mexidos, Bianca gastava alguns minutos escolhendo a cor do prendedor do dia. Embora ela soltasse o cabelo logo antes de entrar na escola.

Quando voltavam, à tarde, geralmente encontravam a vó-mãe-do-papai sentada no lado esquerdo do sofá em frente à TV ligada. Aquele lado do sofá estava até mais afundado que o outro, de tanto que ela ficava ali, parada, todo dia.

27.6.07

;)

http://www.zshare.net/audio/24536346a0a9ba/
http://www.zshare.net/audio/245364799bf42f/

16.6.07

Dos males de estar com fone de ouvido no ônibus enquanto tira uma soneca:

Acordar com um revólver na cara e perceber que você foi o último a reparar que o ônibus estava sendo assaltado.

(Não aconteceu comigo não. Só fiquei imaginando. Pensamentos amenos, pois é.)

13.6.07

“O mundo mais livre que existe está dentro da sua cabeça.
Voe, invente, dance – Não há calibre que mate uma idéia”

Será que alguém lembra disso? É uma propaganda velha dos cigarros FREE. Adorava os anúncios do FREE. Desse eu me lembro bem, minha irmã achava uma super e profunda poesia e ficava repetindo a todo momento. Não há calibre que mate uma idéia... não há calibre que mate uma idéia...blablablá. Essa frase soava tão bem, mas só depois fui descobrir o que significava “calibre”; aí a frase, além de soar bem, passou a fazer sentido.

Depois da maré deprê, estava me sentindo fantástica esses dias (poxa, como as pessoas são importantes na minha vida, não? esqueço delas em 3 dias!). Assim como antes da fluoxetina minha tristeza era pura invenção da minha cabeça, agora, magicamente (e não artificialmente, como muito demonstram, preconceituosamente) acho tudo uma beleza. Mesmo antes, só que com menos freqüência, claro. Teve uma época em que eu acordava e fazia café só pra sentir o cheiro bom, só porque achava gostoso fazer café. Não bebia. Deixava lá, pra quando meus pais acordarem. Não bebo café. (só coca zero sem gás e chá preto com leite e casca de laranja – quabs! piada interna.)

Mas então, o que seria melhor: ter uma vida de merda e ser feliz ou ter uma vida estupenda e ser infeliz, though? Obviamente a primeira opção. Por isso que ser idiota é tão bom, porque você, não sabendo que é idiota, acha a vida uma coisa linda e não padece dos sofrimentos do pensamento e da inteligência. Como li em Pessoa: Meus adoráveis vegetais! Muita, muita inveja dos vegetais, que sobrevivem aleatoriamente na vida e, mesmo idiotas, são mais felizes que eu.


Mas então... estou eu, nos momentos de mais pura felicidade, escrevendo, desenhando, tendo uma idéia genial, ouvindo uma música fabulosa, lendo um livro bacanoso, coisas assim... tudo vago, tudo abstrato; não é um casamento, um filho, um aumento de salário. Tudo na minha cabeça. E é nisso que vai consistir a maior parte da minha felicidade de toda a minha vida: das minhas impressões das coisas, e de tudo o mais. Não estou me lamentando não, por incrível que pareça; é um pensamento aleatório, algo como aquele raciocínio de que o ser humano não passa de um aglomerado de molécculas de carbono...

9.6.07

?

Quem disse que comunidades de orkut não são pérolas de sabedoria? A coerência salvaria o mundo. Eu definitivamente acredito nisso. Você está lá, caminhando, seguindo as placas com cuidado, pedindo informação ao longo da estrada, dirigindo com cuidado, sem ultrapassar a velocidade, fazendo tudo direitinho. Você tem certeza de que está no caminho certo. Só não está com o mapa na mão porque não há mapa para esse tipo de coisa. E aí, de repente, não mais que de repente... você está perdido. De repente você se encontra num lugar escuro, terrível, assustador. E você não sabe como foi parar ali.

Simplesmente não faz sentido que você esteja ali. É só o que tenho a dizer no momento. Eu diria mais coisas, coisas bonitas, e eu queria ter dito diretamente, eu estava quase dizendo. Eu pensei coisas bonitas, e pela primeira vez eu não estava com medo de dirigir sozinha. A culpa não é minha, não é sua, nem de ninguém. Não faz sentido, não era provável, mas aconteceu. Nem existe uma forma de voltar e tentar identificar em que parte do caminho eu me perdi... Vou sair daqui, continuar seguindo como acho que devo seguir.

Lembro perfeitamente de muitas coisas que aconteceram ano passado, que tinha quase certeza de que não dariam certo, e foram maravilhosas. Várias coisas. E agora, quando tudo indica que finalmente você está bem, e você sabe que caminho seguir... Bom, o que posso fazer? A coerência salvaria o mundo. Talvez.