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"Mas quando se trata de repressão, será que nós também estamos munidos de um talento secreto para ela? Assim insinuou Freud, seu cronista mais sensato. Um certo grau de repressão básica é necessário para a sobrevivência de qualquer civilização: se todos trepássemos livremente sempre que surgisse o impulso, que energia restaria para erguer uma cultura? Mas com a civilização alcançada e agora firmemente estabelecida, será que não pressionamos mais do que o necessário, gerando um superávit de repressão, na expressão de outro membro errante da Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse? Será que estamos um pouco nervosos com a possibilidade de nossa própria liberdade? Pense na pouca resistência que essas forças repressivas encontram quando se infiltram nas cercanias da vida diária. Resistência? É mais como mademoiselles recebendo as tropas fascistas de ocupação com olhares sedutores e recatados sorrisos convidativos. "Bela bota, monsieur..."
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Então estou lendo vários livros ao mesmo tempo porque enjôo fácil e fico pulando de um pra outro. Esse trecho é do Contra o amor, presente da querida Rebeca (oi, Rebeca!), que, como não é ficção nem historinhas, demoro mais a ler. Engraçado que eu fico lendo essas análises e pensando "é, é mesmo! é isso aí!", mas aí se outro cara vem e diz que repressão hoje em dia é uma coisa que as pessoas rejeitam, lá vou, lembro do mundo ao redor de novo, e penso: "É, é verdade! É isso aí!" Tudo bem que existem várias faces da realidade (que chique eu) e tal, mas isso só me faz pensar que não tenho opinião formada sobre as coisas - ou que acho o mundo complexo demais pra sintetizar assim. Gosto dessas sínteses. Dessas análises e tal. Nem sempre concordo, também não é assim. Mas, como nesse caso, sou capaz de concordar com posições as mais contraditórias, e isso pode ser tanto um erro de generalização do autor da análise em questão quanto uma fraqueza minha de relativizar tanto que acabo não chegando a conclusão alguma. Por isso a minha dificuldade para opinar. Como eu estava conversando com uma amiga minha também meio que sem opinião, sou geralmente aquela que fica parada com cara de bunda e os outros pensam que estou desprezando a conversa, mas não, estou na verdade é pensando sobre as coisas e tentando fazer as vozes na minha cabeça chegarem a um acordo a tempo de conseguir participar da conversa. Não acontece muito, infelizmente.
Bom, terminei essa semana o Na Praia, presente do Edson (oi, Edson!) e pra falar a verdade não gostei muito não. Achei meio chato. É aquele tipo de livro que vale a pena ler, é bem escrito e tal, mas nãoi me identifiquei forte com nada ali e achei aquele desfecho meio apressado e, sei lá, enfim, não é por ser pessimista, mas tem um tom de exagero caindo pro piegas. Isso só no final final mesmo. Já o final clímax só não gostei da situação... aqueles dois idiotas, dá vontade de bater na cara deles e ensinar a viver. (Como se eu soubesse.)
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Então estou lendo vários livros ao mesmo tempo porque enjôo fácil e fico pulando de um pra outro. Esse trecho é do Contra o amor, presente da querida Rebeca (oi, Rebeca!), que, como não é ficção nem historinhas, demoro mais a ler. Engraçado que eu fico lendo essas análises e pensando "é, é mesmo! é isso aí!", mas aí se outro cara vem e diz que repressão hoje em dia é uma coisa que as pessoas rejeitam, lá vou, lembro do mundo ao redor de novo, e penso: "É, é verdade! É isso aí!" Tudo bem que existem várias faces da realidade (que chique eu) e tal, mas isso só me faz pensar que não tenho opinião formada sobre as coisas - ou que acho o mundo complexo demais pra sintetizar assim. Gosto dessas sínteses. Dessas análises e tal. Nem sempre concordo, também não é assim. Mas, como nesse caso, sou capaz de concordar com posições as mais contraditórias, e isso pode ser tanto um erro de generalização do autor da análise em questão quanto uma fraqueza minha de relativizar tanto que acabo não chegando a conclusão alguma. Por isso a minha dificuldade para opinar. Como eu estava conversando com uma amiga minha também meio que sem opinião, sou geralmente aquela que fica parada com cara de bunda e os outros pensam que estou desprezando a conversa, mas não, estou na verdade é pensando sobre as coisas e tentando fazer as vozes na minha cabeça chegarem a um acordo a tempo de conseguir participar da conversa. Não acontece muito, infelizmente.
Bom, terminei essa semana o Na Praia, presente do Edson (oi, Edson!) e pra falar a verdade não gostei muito não. Achei meio chato. É aquele tipo de livro que vale a pena ler, é bem escrito e tal, mas nãoi me identifiquei forte com nada ali e achei aquele desfecho meio apressado e, sei lá, enfim, não é por ser pessimista, mas tem um tom de exagero caindo pro piegas. Isso só no final final mesmo. Já o final clímax só não gostei da situação... aqueles dois idiotas, dá vontade de bater na cara deles e ensinar a viver. (Como se eu soubesse.)
2 Comments:
Pô, eu AMO o final desse livro. Quer dizer, ele não tem nada demais, apenas foi uma forma de dizer que depois daquele episódio os dois personagens nunca se encontraram mesmo. E que tiveram vidinhas que, por trás de um ou outro detalhe charmoso, foram nada além de ordinárias e razoavelmente infelizes. Ainda assim, não consigo deixar de achar dolorosamente sublime aquela epílogo. Tenho os meus motivos, acho que é algo pessoal mesmo.
No geral, o que me fez gostar do livro foi a seguinte idéia: os dois não se meteram naquele buraco por conflitos e desafinidades pessoais, mas pq ainda não existia uma linguagem em que pudessem expressar o que passavam. E aquela linguagem estava prestes a surgir, mas eles foram da última turma que ainda não teria acesso a ela... É tão trágico, isso.
Pq o que atrai minha atenção
na literatura é isso: criar os artefatos linguísticos pra paisagens emocionais que ainda não foram devassadas. No caso de Na Praia, o fascinante é que o McEwan escreve um livro sobre o que a não-existencia (ou a impossibilidade de utilizar) de uma linguagem pode acarretar.
De toda maneira, se vc quiser odiar o livro, tem um artigo na finada EntreLivros (na verdade, uma tradução da resenha do New York Review of Books) que destrói tudo sem dó nem piedade. Os personagens, particularmente. ;)
By Edson, at segunda-feira, setembro 01, 2008
Mais duas coisas.
1 - Sobre opiniões categóricas e grandes sínteses: a questão não é concordar ou discordar, dizer "é isso aí" ou "não, que baboseira!"; mas sim tentar sacar como o cara chegou a tal opinião. Talvez vc nunca chegue a dizer com certeza se tal afirmação categórica está correta ou não (eu tbm tenho lá as minhas dificuldades com isso, embora, ao contrário de vc, a minha tendencia seja a mais a lançar um "acho que não é bem por aí", sem, no entanto, ter qualquer fundamento pra lançar essa objeção), mas vai entender bem mais como funciona a máquina do mundo, acho.
2 - Ainda sobre o McEwan. Leia o Reparação. (Leve o imperativo ao pé da letra, é ordem, não é pedido não. :P ) Mesmo quem não gostou do Na Praia costuma gostar desse. Tem fama de obra prima da literatura contemporânea, no que eu concordo plenamente. O final é ainda mais doloroso, e se vc teve vontade de bater nos personagens do Na Praia, no Reparação vc vai querer enforcar e/ou espancar até a morte a tal da Briony Tallis. Pensei em te dar de presente, mas achei que o Na Praia combinava mais com vc. No que eu me enganei redondamente, como é de costume. Nhé. :P
By Edson, at segunda-feira, setembro 01, 2008
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