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16.3.09

oh sweet nuthin'

Mamãe tem 59 anos e fica cada dia mais chata. Assuntos desinteressantes, risadas que riem do que não tem graça, opiniões sempre discordantes das minhas. Alguém que não admiro, mas cujo bem desejo muito. Talvez minha obrigação seja fingir que me interesso pelo que ela diz. Talvez ela precise de mais amigas. Talvez ela vá ficar como Kananbala, do Atlas de anseios impossíveis: Esperando o marido chegar em casa pra jogar sobre ele todos os papos desinteressantes que ela precisa jogar sobre alguém. E o marido, que tem muito mais gente com quem conversar, acha tudo um saco o que ela diz, e faz cara de tédio, e é esse o casamento. Os dois ficando velhos, cada vez menos interessados um no outro. Pretendo sair de casa ano que vem no máximo. Tenho pena de deixar ela aqui com o grosso do meu pai, mas é inevitável. Claro que não vou me conter por isso. Kananbala, em certo ponto, sem ter com quem falar, criou uma espécie de Alzheimer e começou a falar palavrão e obscenidades e grosserias aleatoriamente, depois não se lembrava de ter dito nada disso.  Não lembro o nome da doença. Cada vez que minha mãe se aproxima com suas conversas bocejantes imagino ela em alguns anos soltando impropérios a torto e a direito e as pessoas em volta com pena. É uma merda ficar velho. Deve ser uma merda envelhecer e ver a merda que foi a sua vida. Mas minha mãe não tem essa consciência, para a sorte dela. Thainara uma vez contou a história de uma amiga que, depois de casada, virou dona de casa a pedido do marido, e aí depois de um tempo, como ela não tinha mais assunto interessante a abordar, só o preço da batata e a nova vassoura que comprou e coisas assim, o marido se separou dela. 

***

Preciso de terapia.