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14.12.05

A morte te espera na pracinha

Três amigos inocentes foram passear no parquinho: Sheila, Daniel e Clara. As meninas tinham 21 anos; o menino, 23. Todos maduros, inteligentes, pacíficos e saltitantes na vida. Claro que essa descrição só e coerente com o fato de que eles tinham acabado de beber algumas garrafas de cerveja e tinham tomado sorvete sabor crocante. Daniel, o mais guloso, tomou 2 sorvetes. Antes disso, estavam felizes em suas cadeiras de praia, conversando sobre a vida, no meio do mercado, quando decidiram dirigir-se à Praça Afonso Pena, reduto localizado em frente à moradia da pequena Sheila - assim chamada porque era muito baixinha, detalhe que será importante mais adiante nesta história.

Seguiram cantarolando pela rua até a pracinha. Lá, ainda influenciados pelo bom humor da bebida, acocoraram-se no balanço, balançando para a frente e para trás. Pena que aqueles balanços estavam tão baixos - o pobre Daniel, que era alto, foi prejudicado por suas longas pernas. As meninas, em apoio ao amigo, decidiram mudar de brinquedo.

Esta é a história de como os 3 pobres jovens foram ardilosamente ameaçados na pracinha e posteriormente expulsos do singelo recanto por 3 meliantes, maldosos e feios, muito feios, ai ai ai. A ordem é cronológica e as impressões, caso alguém os acuse, são verdadeiras, de maneira alguma influenciadas pelos efeitos da cerveja, porque afinal não foram tantos litros assim.

Pâmela, 3 anos, precocemente esclerosada

Pois então. Após abandonarem o balanço, os 3 amigos resolveram instalar-se em uma casinha de madeira guarnecida por um escorrega, um balanço de pneu e algumas escadinhas coloridas. Parte das telhas estava quebrada, mas isso não influenciou negativamente o trio, pelo contrário, rendeu algumas piadas muitíssimo engraçadas, como: "Clara, você vai pegar chuva! Hahaha!". O ambiente lúdico da casinha era tão agradável que eles lá ficaram conversando, passeando por assuntos como a morte de criancinhas, a dificuldade de se obter fumo hoje em dia, a tristeza que é a vida blá blá blá. Todos assuntos bastante adequados para uma pracinha. Não que o bom humor alcoólico tivesse ido embora, mas eles estavam tão acostumados de só falar nesse tipo de coisa feliz, que não tinham outros assuntos.

A conversa assim seguia quando um elemento começou a rondar a casinha. Era uma pequena infratora; loira, cabelos cacheados, short com a estampa da Barbie, tênis da Sandy, e justamente por isso já ameaçadora.

Seu nome, Pâmela.

Ela foi se aproximando devagar da escada, fingindo que não dera pela presença dos jovens no interior da casinha. E foi subindo a escadinha colorida, degrau por degrau, cantando, com os olhos arregalados - pois ela mal sabia disfarçar a esclerose. A sua cantoria era por si só tão sinistra que Clara, Daniel e Sheila foram tomados de pânico imediatamente após o primeiro lálálá. E a melodia desconexa continuava, cada vez mais próxima, mais perto, mais assustadora. Foi então que a menina surgiu no pavimento, com seus olhos de psicopata infantil, seu vulto refletido contra a luz.

Os 3 amigos, maduros que eram, fingiram ignorar a psychogirl ali infiltrada, para manter suas imagens de pessoas adultas e seguras de si. Para o alívio deles, Pâmela, a esclerosada psicótica, apenas atravessou a casinha e saiu do outro lado, descendo pelo escorrega. Contudo, sem jamais deixar de cantar sua melodia hipnótica.

Tudo parecia resolvido quando ela voltou, atravessou a casinha e desceu mais uma vez pelo escorrega. E assim continuou, ininterruptamente, e a cada descida olhava para trás com seus olhos gélidos, esperando um olhar de um dos amigos para que ela completasse a volta. Assim, o som da sua voz diminuia, para logo em seguida reaparecer mais forte no lado da escadinha colorida.

Quando o terror tomou conta dos amigos e eles perceberam que o ambiente isolado não era muito propício, que se algo lhes acontecesse ninguém viria em socorro deles, decidiram, a contragosto, abandonar a casinha, em busca de ares menos ameaçadores.

Vã ilusão. Algo pior estava para acontecer.

Paula, 6 anos, gorda e agressiva

Logo que desceram da casinha – pelo escorrega, claro -, os amigos avistaram um outro conjunto de balanços, dessa vez a uma altura perfeita para as pernas longilíneas de Daniel. Sairam correndo, entusiasmados com a descoberta, e por isso não atentaram para o fato de que um dos três balanços estava ocupado por uma criatura gorda, morena, de cabelos desgrenhados e barriga saltando pra fora do short de mal gosto. Assim, Clara teve de se contentar em ficar em pé, pois Sheila já se instalara ao lado da gorda, e Daniel no balanço da esquerda.

A primeira ameaça de Paula foi proferida aos berros, enquanto o trio se dirigia ao brinquedo. Ela gritou, ameaçadoramente, com sua voz esganiçada:

- Sai fora!

No entanto, os inocentes amigos julgaram tratar-se de uma brincadeira da menina, e decidiram dar um crédito a ela. Afinal, tão gordinha, tão feinha, coitadinha.

Mas a delinqüente não estava nem aí para a compaixão alheia. Ela só não expulsou Sheila do balanço ao seu lado pois enganou-se com a altura da menina, que era quase a mesma que a sua. Isso, contudo, não impediu que a pérfida Paula começasse a jogar seu balanço contra o de Sheila, na tentativa de acertá-la em cheio com seu imenso peso de gorda feia. E ela nem disfarçava sua implicância: enquanto fazia força para levar o brinquedo para o lado da ingênua Sheila, Paula a encarava com fúria em seus olhos gordos.

Foi assim que Sheila mais uma vez se viu forçada a abandonar o brinquedo, para sua inesgotável tristeza. O que ela não esperava é que Paula tivesse um cúmplice, ainda mais perigoso que a gordura da sua imensa pança.

Manoel, 4 anos, desarmado e perigoso

Manoel surgiu por trás. Fora um chamado de Paula? Teria sido aquele “sai fora” um sinal para a vinda dele? Não se sabe. Mas ele chegou disposto a acabar em definitivo com a alegria dos 3 amigos. E assim o fez.

Seu primeiro ato de maldade foi expulsar Daniel do seu balanço, alegando que aquele era o lugar dele, Manoel, e que ninguém teria o direito de ousar sentar-se no seu brinquedo.

Daniel, tão pacífico, tentou contornar a situação com um “sai daí, criancinha, ou o balanço pode esbarrar em você”.

Manoel, incitado pela tentativa de superioridade de Daniel, resolveu colocar as garras pra fora, e literalmente: puxou a manga da camisa de Daniel até ele ser obrigado a parar de se balançar e abandonar o brinquedo.

Assim, tristes, os três amigos foram lentamente caminhando pela pracinha em busca de um refúgio. Atrás deles, porém, ao invés de Paula e Manoel se satisfazerem no balanço, a gorda horrorosa jogou o balanço vazio, onde antes estava Sheila, contra Manoel, que ainda se ocupava em lançar olhares ameaçadores aos amigos inofensivos.

Foi a gota d´água.

Manoel levantou de seu balanço e foi tirar satisfação (burro que era, pois não percebeu a traição de sua própria companheira):

- Quem foi que deixou o balanço bater em mim???

Assustados, pois não imaginavam serem acusados de ato tão covarde, Daniel, Clara e Sheila ainda tentavam explicar ao menininho que havia sido a própria Paula. Mas desistiram, quando perceberam que não havia saída: Manoel não estava para brincadeiras. Ele juntara as mãos, preparando-se para um soco a qualquer momento, e olhava os 3 jovens com a testa franzida, esfregando os punhos em posição de combate. E assim se manteve, enquanto seguia o trio, que lá se ia fugindo da pracinha, enquanto Paula, talvez arrependida, quem sabe, vinha correndo atrás, gritando:

- Volta! Volta! Manoel, nããããããão!!!!!!!

Aterrorizados pelo tom de Paula, que mesmo sendo delinqüente parecia temerosa por um outro derramamento de sangue por parte de seu cúmplice descontrolado, o Manoel, os amigos resolveram dar um fim em tudo aquilo, abandonando qualquer tentativa de maturidade e jogando no lixo suas imagens de maiores de 21 anos: sairam correndo dali, com lágrimas nos olhos, os corações apertados, em busca de sobrevivência, em algum lugar livre de elementos tão mal encarados como aquelas três sinistras criancinhas. Oh mundo cruel.

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