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26.3.06

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Goodbye, my friends
it's hard to die
when all the birds are singing in the sky

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They say we're too young;
I think we're too old

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17.3.06

Top 3

“É engraçado, assim, lembrar de certas coisas que ela dizia. Olha...juro pra você. Não é mentira não. Aliás só lembrei dela porque lembrei da Xuxa. Hein? Não, nada a ver com ela. Uma vez estávamos nós dois vendo televisão na sala... é, programão... me lembro vagamente do que tava passando. Claro que tinha a Xuxa no meio, mas você veja bem, ela disse simplesmente: Nossa, essa mulher é foda! É, eu sei. Não, tudo bem. Mas não sei se você me entende, é porque você não viu aquele sorriso de admiração... eu diria até que ela olhava não a tv, mas o horizonte (se desse pra ver o horizonte através da parede). Daquele jeito brega e melancólico, só faltava juntar as mãozinhas e suspirar piscando os olhos. E o tom de voz dela...como eu diria? Era muito, muito sério.”

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“Bom, teve uma outra que me deixou numa situação meio chata. Já viu aquelas cenas constrangedoras de restaurante? Pior que era no McDonald’s. Porque tá todo mundo lá concentrado nas próprias comidas, e aí vem alguém e fala mais alto, ou dá a impressão de não estar satisfeito com suas batatas, e começa todo mundo a olhar, sem parar de mastigar, mastigar, mastigar. Sim, restaurantes são bons cenários pra filmes de comédia, nunca tinha pensado nisso. Mas então, o que eu dizia? Ah sim. Não lembro exatamente do que estávamos falando, nada muito elaborado, mas a garota começou a divagar sobre as estruturas da vida. Não que eu realmente quisesse conversar sobre isso, mas tive que perguntar o que era pra não deixar o assunto morrer. A garota me lançou numa de nascer, crescer, casar, morrer...comer, beber, viver...sabe? E do nosso lado tinha se instalado uma família, os pais lá todos bobos com duas crianças loirinhas pedindo hambúrguer! hambúrguer!, e a garota comentando como era danoso e traumático esse negócio de família, o porquê da nacessidade de procriação, todas essas coisas. E olhando pra mim como se fosse uma estudiosa apresentando seu mais novo projeto de antropologia. O pessoal do lado só faltava tacar a bandeja na gente, e as criancinhas olhando assustadas, prestando atenção. Tenho medo de que uma delas mate os pais qualquer dia desses.”

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“Ah não, essa era até legal. Era divertida. Às vezes falava umas coisas estranhas. Tinha mania de parar nas vitrines e comentar ‘Esse é um bom corpo para homens’, ou ‘Esse é um bom corpo para mulheres’, analisando os manequins. É, ela pedia minha opinião, mas eu fingia que tava interessado na roupa, pra fugir do assunto.”

14.3.06

(...)

O encontro deu-se no shopping.
Naquela parte pouco visitada destinada aos lances de escada.
Ainda mais vazia pelo fato de o shopping ter acabado de abrir.
Ela em suas havaianas; ele em seu jeans habitual.
Três segundos de pausa dramática.
Quanto tempo, ele disse.
Quanto tempo, ela disse.
Ele pensou em calcular o grau de probabilidade que aquilo tinha de acontecer (o resultado seria, provavelmente, negativo).
Em vez disso, fez coisa melhor.

9.3.06

There is a light that never goes out...

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5.3.06

# 3



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I'm being followed home,
I'm being followed home

I don't know what for,
I don't know by whom.

My mind is a blur, I feel so weak
I see your reflection in the street.
"It's what you deserve, it's what you need. Just like those stupid books you read."

3.3.06

Os alquimistas estão chegando

Os alquimistas estão chegando...

Os dois homens instalaram-se cada um de um lado do terceiro. O primeiro, embora tivesse uma boca tão pequena que parecia deformada, foi o que passou a tarde inteira falando. Não parava nunca. O dono da casa, submisso, aceitava e abaixava a cabeça. O terceiro apenas contemplava as cenas, e fingia que tinha alguma utilidade. Talvez tivesse. Vai saber.

Agora, sabe-se lá por quê, estão os três olhando pela janela, um ao lado do outro. Os dois homens cruzaram aos mãos às costas, então o terceiro cruzou também. De vez em quando ele olha para os lados de soslaio, mas mal consegue ver os ombros dos outros, por ser tão mais baixo. Se os outros rissem ele riria também, pois até que a cena está engraçada. Aquelas caras com uma seriedade instalada a prego naquelas caras insossas. Mas eles não riem - ou pelo menos ele supõe que não.

Quisera ele entender o motivo daquilo. Passaram horas e horas revistando a casa, trocando coisas de lugar, ordenando tarefas absurdas e desviando de objetos inofensivos. À primeira vista, a coisa poderia ser um tanto ameaçadora. Depois, o inusitado superou a prudência e ele já não sabe mais em que dimensão reside e se realmente não devia ter aceitado a sugestado da sua ex-mulher e se internado definitivamente naquele hospício tão receptivo e limpinho que tinha ali perto. "Veja bem, querido", a voz de garça ressoava na mente dele, "pelo menos você não vai precisar lavar suas malditas roupas. Nem cozinhar nem comprar congelados, porque aqueles comprimidinhos que eles te dão, ah, no mundo da lua ninguém sente fome...".

A água continuava a correr escada abaixo. Diziam eles que era necessário para delimitar o espaço-tempo em que a sinuosidade se daria de forma inteiramente abjeta ou, inversamente propondo, em que a propulsão à resistência orgânica completaria pelo menos sete dos nove ciclos pretendidos. Perguntava-se se a apresentação que ele fizera da própria casa tinha definido a quantidade desses tais ciclos. Ele vinha, ainda intrigado, respondendo sobre o material de que eram feitas as janelas - "algumas delas serão levadas para análise, esperamos que o senhor não se importe..." -, sobre a freqüência do uso das torneiras - "não creio que isso seja uma torneira" -, demonstrando a elasticidade das cortinas - "mais para a direita, por favor...agora incline-se para a frente..." -, evitando esbarrar nos ladrilhos furiosamente indicados e tão ameaçadoramente assinalados - "uma panela sobre eles e o senhor não se esquecerá de que oferecem riscos"..

No segundo andar, os questionamentos prolongaram-se. Análises do material do reboco da parede indicaram que, ao contrário do que ele pensava, aquele não era o quarto. Melhor seria trocar a cama por uma banheira. Nos corredores, um surto impeliu-os a rasparem as paredes e contarem seguidas vezes, em três linguas diferentes, os níveis de tinta sucessivamente substituídos. O dono da casa assistia, com a cabeça pendendo, piscando um olho e tentando entender o processo, mas foi carregado logo para os outros cômodos.

Agora, a casa semi-destruída, a tarefa estava quase completa. Pela respiração ele parecia sentir um frêmito de dever cumprido percorrendo lascivamente as espinhas dos dois homens. Em vez de gelo, cubos de caldo de carne; para os temperos, o lugar seria o antigo armário guardado no sótão; nos cômodos pouco visitados, estes sim deveriam ter as lâmpadas potentes, devidamente retiradas dos outros.

Eles subitamente acordaram. Olharam-se, e moveram-se em direção à porta. O dono da casa temeu segui-los, apenas olhou para trás, vascilando entre o pé esquerdo ou o direito a avançarem pelo novo tapete dobrado em quatro. Eles continuaram seguindo e, antes de chegar à porta, estacaram, surpreendidos por algumas anotações perdidas sobre a mesa. Voltaram-se, inquisidoramente. O dono da casa aproximou-se. Tentou explicar: são apenas...coisas. Coisas que eu escrevo. Às vezes, assim...sem intenção nenhuma. O boca-deformada revidou com agressividade: já não tinha feito aquilo o suficiente? Pra que mais essas coisas sem sentido que ele produzia indefinidamente? O dono da casa tentou se defender, começou a explicar o título, estão chegando, estão chegando, chegando os alquimistas, olha que bacana... Mas o outro cochichou para o outro, enquanto escrevia a sentença final: deve ser mais uma frase qualquer que ele ouviu em algum lugar. Está perdido, perdido...

1.3.06

(by Nabokov)

"Procura-se Sheila Louzada, há grande urgência
Tem cabelos castanhos e a pele é desbotada
Oito mil dias de existência
Ocupação: colunista musical - ou nada"