Cena 2 – [mais dois personagens são apresentados, e o nada continua a acontecer ]
É uma outra sala, com suas mesmas carteiras de madeira escura, seu quadro negro com aspecto gasto, seus alunos uniformizados como pinguins, em preto e branco. As meninas de saia o mais curta possível; os meninos, abrindo a camisa para aparentar masculinidade.
O silêncio é ainda mais sepulcral – estamos em prova. Cabeças baixas, cadeiras afastadas, filas organizadas. À frente, uma mulher com aparência de quarenta anos de idade finge estar absorta em anotações, com a cumplicidade da mesa em que se apoia. Fora das vista dos alunos, ela folheia uma revista “para mulheres maduras”. Aprenda a fazer um delicioso rocambole de sorvete. Dez dicas para economizar 200 ou até 500 reais por mês. Carreira e família: como conciliar? Novo Iogurte de Frutas Vermelhas Light. Kátia suspira, cansada de informações tão relevantes.
Larga a revista no colo e enfurna o queixo nas mãos. Volta a observar os alunos. Entre as caras de preocupação e aborrecimento, só a de Marcelo se difere, sorridente. A professora até estranha tanta simpatia. Gente feliz assim, gratuitamente? Coisas estranhas acontecem. Tenta se concentrar em outros rostos, mas o garoto volta e meia a olha de novo. Kátia tenta afastar os pensamentos pedófilos da mente. Tenta parar de reparar nas pernas do rapaz (quase 18 anos, veja só...), nos seus cachos loiros propositadamente despenteados, nos ombros largos e definidos, nos... Opa. Marcelo está se afogando? Balançando os braços desesperadamente, que isso. Kátia desperta, vai atender o aluno.
- Fala - ela diz, baixinho, quase sensualmente, para não atrapalhar a prova com barulho.
O rapaz, ainda sorrindo, alega que ali está muito apertado e que não tem espaço pra esticar as pernas (Kátia naturalmente volta os olhos na direção do objeto mencionado). Sem esticar as pernas (lembre-se, olhe os olhos dele, apenas isso), ele não consegue relaxar e se concentrar na prova. Tudo bem, Marcelo, você pode mudar de lugar – e Kátia tenta sorrir também, entrar naquele clima de alegria, mas isso nela parece tão desencaixado...
Engraçado como até andando de um lado a outro da sala o rapaz parece um dos poucos mortais naturalmente felizes da espécie humana. Suspiro de inveja.
***
O silêncio é ainda mais sepulcral – estamos em prova. Cabeças baixas, cadeiras afastadas, filas organizadas. À frente, uma mulher com aparência de quarenta anos de idade finge estar absorta em anotações, com a cumplicidade da mesa em que se apoia. Fora das vista dos alunos, ela folheia uma revista “para mulheres maduras”. Aprenda a fazer um delicioso rocambole de sorvete. Dez dicas para economizar 200 ou até 500 reais por mês. Carreira e família: como conciliar? Novo Iogurte de Frutas Vermelhas Light. Kátia suspira, cansada de informações tão relevantes.
Larga a revista no colo e enfurna o queixo nas mãos. Volta a observar os alunos. Entre as caras de preocupação e aborrecimento, só a de Marcelo se difere, sorridente. A professora até estranha tanta simpatia. Gente feliz assim, gratuitamente? Coisas estranhas acontecem. Tenta se concentrar em outros rostos, mas o garoto volta e meia a olha de novo. Kátia tenta afastar os pensamentos pedófilos da mente. Tenta parar de reparar nas pernas do rapaz (quase 18 anos, veja só...), nos seus cachos loiros propositadamente despenteados, nos ombros largos e definidos, nos... Opa. Marcelo está se afogando? Balançando os braços desesperadamente, que isso. Kátia desperta, vai atender o aluno.
- Fala - ela diz, baixinho, quase sensualmente, para não atrapalhar a prova com barulho.
O rapaz, ainda sorrindo, alega que ali está muito apertado e que não tem espaço pra esticar as pernas (Kátia naturalmente volta os olhos na direção do objeto mencionado). Sem esticar as pernas (lembre-se, olhe os olhos dele, apenas isso), ele não consegue relaxar e se concentrar na prova. Tudo bem, Marcelo, você pode mudar de lugar – e Kátia tenta sorrir também, entrar naquele clima de alegria, mas isso nela parece tão desencaixado...
Engraçado como até andando de um lado a outro da sala o rapaz parece um dos poucos mortais naturalmente felizes da espécie humana. Suspiro de inveja.
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2 Comments:
você não me mandou a história inteira, sheilinha! vou acompanhar por aqui?
By Anônimo, at quarta-feira, abril 12, 2006
não me identifiquei antes
By Anônimo, at quarta-feira, abril 12, 2006
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