Conto de fadas sem título - parte III
A floresta ficava em uma elevação do terreno. Um rio contornava-a alguns quilômetros, terminando em um estuário mais distante, próximo às falésias e aos rochedos.
Leland e Anne estavam cansados quando lá chegaram. No início do percurso a subida era íngreme e as árvores esparsas, tornando-se cada vez mais densas, até eles não serem mais atingidos pela luz do Sol, senão por alguns raios que conseguiam furar o bloqueio das folhas. Pararam por um momento e olharam em volta: as árvores pareciam todas iguais, e muito próximas. O barulho era mais forte do que eles esperavam; além do vento soprando, havia o movimento dos galhos e os zumbidos de animais que rondavam o local, desde pássaros até ruídos que eles não reconheciam, misturados que estavam. Por alguns segundos, calados, de bocas abertas admirando o cenário, sentiram uma certa frustração – nada havia ali a ser explorado. Aparentemente, pelo menos. Então era verdade que os duendes e os elfos se escondiam; era verdade que teriam que adquirir ainda um contato maior com a floresta para que ela se mostrasse por completo a eles. Em seu íntimo, suplicavam, aos deuses que acreditavam ali existir, que os reconhecessem como amigos, como guardadores de segredos. Que vissem neles o imenso desejo que tinham de conhecer os encantos da floresta. Que os recepcionassem, calorosos, com seus enigmas desabrochados como presentes.
Infelizmente, nada de mais aconteceu na hora seguinte. Ali caminharam, sempre apreensivos, esperançosos de que subitamente algo de novo surgisse. Mas nunca acontecia. E, minuto a minuto, a tristeza tomou conta das crianças.
- Será que a gente escolheu a hora errada? – sugeriu Anne, sentada ao pé de uma árvore ao lado do irmão, enquanto brincava de esmagar frutinhas sobre o laço que envolvia a cintura de seu vestido amarelo.
- Pode ser! Eles podem estar reunidos em alguma comemoração ou coisa assim...
- É...estão ocupados, nem repararam que viemos visitá-los.
- Deve ser...
Ficaram pensativos alguns momentos.
- Mas...
- O quê?
- E então...?
- Não sei, Anne. Talvez possamos voltar aqui outro dia. Podemos dizer à Sra. Smithee que fomos logo cedo à missa...
Anne riu da idéia.
- Como ela irá acreditar?
- Ela acreditará. Você verá.
Anne olhou o irmão, admirada: ele sempre conseguia ser tão convincente! Contava com a sorte de a Sra. Smithee ser bastante inocente para uma mulher da idade dela, mas certamente Leland tinha talento...
- Está sujando todo o vestido, Anne!
Anne tomou um susto. Olhou para sua roupa:
- Mas...você trouxe o outro para eu trocar depois...
- Não era por isso que precisava sujar tanto esse! Não podemos abusar da sorte. Quando forem pegar suas roupas, as lavadeiras podem desconfiar. Elas não são bobas como a Sra. Smithee.
Anne concordou, mas no fundo ficou ressentida com o tom de voz que Leland usara. Os dois estavam tristes pelo fracasso da aventura, ele não precisava descontar nela a frustração. Pensando nisso, acabou não reparando que ainda não tirara as frutinhas de sobre seu vestido. Levantou os olhos para Leland, que a olhava com reprovação.
- Desculpe...
Leland suspirou.
- Tudo bem. Mas preste mais atenção da próxima vez.
Anne levantou. Caminhou em volta da árvore. Ainda pensava que poderia descobrir algo de diferente. Quando encontrasse, Leland ficaria orgulhoso dela. Leland a perdoaria de verdade por ter sido desatenta. Tantos planos e ela cometia um erro banal... Mas, que importava? O problema, de fato, era tudo ter dado errado.
Será que simplesmente não havia mistério?
Anne estremeceu com essa possibilidade. Uma tristeza enorme apossou-se dela. Foi então que ela viu uma luz a alguns metros de distância. Não a luz do dia, mas algo diferente. Parecia formada por inúmeras cores...poderia ser ali a suposta festa dos elfos e duendes. Poderia ter encontrado o esconderijo deles, afinal. Novamente animada, correu até lá, desviando-se dos galhos, arranhando ainda mais o vestido. Mas a luz parecia não se aproximar, não crescia de tamanho, parecia afastar-se de Anne à mesma medida que ela corria. Tentou ser mais rápida. E nisso, tropeçou na raiz de uma árvore, subitamente indo com o rosto de encontro ao chão.
Quando se levantou, a luz sumira. Nem vestígios dela. Nem de qualquer outro sinal mágico.
E, principalmente, nenhum sinal de Leland.
Anne não era uma criança medrosa. Mas ali, sozinha, sem o irmão, não pôde evitar chorar, quando finalmente se deu conta de que estava perdida.
Leland e Anne estavam cansados quando lá chegaram. No início do percurso a subida era íngreme e as árvores esparsas, tornando-se cada vez mais densas, até eles não serem mais atingidos pela luz do Sol, senão por alguns raios que conseguiam furar o bloqueio das folhas. Pararam por um momento e olharam em volta: as árvores pareciam todas iguais, e muito próximas. O barulho era mais forte do que eles esperavam; além do vento soprando, havia o movimento dos galhos e os zumbidos de animais que rondavam o local, desde pássaros até ruídos que eles não reconheciam, misturados que estavam. Por alguns segundos, calados, de bocas abertas admirando o cenário, sentiram uma certa frustração – nada havia ali a ser explorado. Aparentemente, pelo menos. Então era verdade que os duendes e os elfos se escondiam; era verdade que teriam que adquirir ainda um contato maior com a floresta para que ela se mostrasse por completo a eles. Em seu íntimo, suplicavam, aos deuses que acreditavam ali existir, que os reconhecessem como amigos, como guardadores de segredos. Que vissem neles o imenso desejo que tinham de conhecer os encantos da floresta. Que os recepcionassem, calorosos, com seus enigmas desabrochados como presentes.
Infelizmente, nada de mais aconteceu na hora seguinte. Ali caminharam, sempre apreensivos, esperançosos de que subitamente algo de novo surgisse. Mas nunca acontecia. E, minuto a minuto, a tristeza tomou conta das crianças.
- Será que a gente escolheu a hora errada? – sugeriu Anne, sentada ao pé de uma árvore ao lado do irmão, enquanto brincava de esmagar frutinhas sobre o laço que envolvia a cintura de seu vestido amarelo.
- Pode ser! Eles podem estar reunidos em alguma comemoração ou coisa assim...
- É...estão ocupados, nem repararam que viemos visitá-los.
- Deve ser...
Ficaram pensativos alguns momentos.
- Mas...
- O quê?
- E então...?
- Não sei, Anne. Talvez possamos voltar aqui outro dia. Podemos dizer à Sra. Smithee que fomos logo cedo à missa...
Anne riu da idéia.
- Como ela irá acreditar?
- Ela acreditará. Você verá.
Anne olhou o irmão, admirada: ele sempre conseguia ser tão convincente! Contava com a sorte de a Sra. Smithee ser bastante inocente para uma mulher da idade dela, mas certamente Leland tinha talento...
- Está sujando todo o vestido, Anne!
Anne tomou um susto. Olhou para sua roupa:
- Mas...você trouxe o outro para eu trocar depois...
- Não era por isso que precisava sujar tanto esse! Não podemos abusar da sorte. Quando forem pegar suas roupas, as lavadeiras podem desconfiar. Elas não são bobas como a Sra. Smithee.
Anne concordou, mas no fundo ficou ressentida com o tom de voz que Leland usara. Os dois estavam tristes pelo fracasso da aventura, ele não precisava descontar nela a frustração. Pensando nisso, acabou não reparando que ainda não tirara as frutinhas de sobre seu vestido. Levantou os olhos para Leland, que a olhava com reprovação.
- Desculpe...
Leland suspirou.
- Tudo bem. Mas preste mais atenção da próxima vez.
Anne levantou. Caminhou em volta da árvore. Ainda pensava que poderia descobrir algo de diferente. Quando encontrasse, Leland ficaria orgulhoso dela. Leland a perdoaria de verdade por ter sido desatenta. Tantos planos e ela cometia um erro banal... Mas, que importava? O problema, de fato, era tudo ter dado errado.
Será que simplesmente não havia mistério?
Anne estremeceu com essa possibilidade. Uma tristeza enorme apossou-se dela. Foi então que ela viu uma luz a alguns metros de distância. Não a luz do dia, mas algo diferente. Parecia formada por inúmeras cores...poderia ser ali a suposta festa dos elfos e duendes. Poderia ter encontrado o esconderijo deles, afinal. Novamente animada, correu até lá, desviando-se dos galhos, arranhando ainda mais o vestido. Mas a luz parecia não se aproximar, não crescia de tamanho, parecia afastar-se de Anne à mesma medida que ela corria. Tentou ser mais rápida. E nisso, tropeçou na raiz de uma árvore, subitamente indo com o rosto de encontro ao chão.
Quando se levantou, a luz sumira. Nem vestígios dela. Nem de qualquer outro sinal mágico.
E, principalmente, nenhum sinal de Leland.
Anne não era uma criança medrosa. Mas ali, sozinha, sem o irmão, não pôde evitar chorar, quando finalmente se deu conta de que estava perdida.
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