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8.1.06

Por uma vida mais ordinária

Querida, a nossa história de amor é mais uma entre as milhares que aconteceram essa semana, esse mês, entre as milhões, bilhões ou talvez trilhões que acontecem todo mês, todo ano. Você pode até argumentar que a maioria não é amor, é conveniência; você é tão sensata que até irrita. Mas é assim que chama, querida. E até o amor verdadeiro é uma conveniência, a mais conveniente, aliás.

O nosso foi um dos mais banais, daqueles que a gente vai ter que inventar histórias pra contar aos outros como a gente se conheceu. Eu sou um cara comum, nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, não tenho pinta nem tatuagem nem sarda nem verruga. Você também eu confundiria com outras na rua se já não tivesse decorado todas as sardinhas do teu rosto, a distância entre elas, o diâmetro e o raio das tuas pupilas. Bobagem, não sei nada disso. Nunca fui bom em poesia.

É, não sei se você se importa, mas o nosso amor não venderia livro, não daria música, acho que não dá casamento. O nosso amor é um clichê, mas daqueles que a gente sente falta. Experimente você não ser confundida na rua com mil outras garotas, e você desejaria isso. Você desejaria ser como todo mundo, você sonharia em estar no mesmo evento em que uma multidão também está. Sabe, eu sentia falta do arroz e feijão, quando minha mãe viajava e minha irmã só sabia cozinhar lasanha. Eu sinto falta, até hoje, de ter um jeans básico, porque só uso essas calças marrons do uniforme do trabalho.

Eu queria, antes de conhecer você, a história mais banal, a emoção que todo mundo já sentiu, menos eu. Aquilo que não é nada demais, e é justo por ser só isso. Querida, o nosso amor é um lugar-comum, e dá até pra imaginar que a gente um dia vai se separar por tédio ou ciúme ou traição. E eu vou lembrar de você como a menos formidável mulher que eu já tive, e às vezes, à noite, vou me surpreender olhando lá fora pensando ter reconhecido o cheiro de um perfume que não me lembra ninguém em especial.