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25.12.05

Conto de fadas sem título - parte II

Prepararam-se para o grande dia durante cinco semanas, elaborando o Grande Plano às escondidas, claro, e ainda com mais zelo do que o normal. Alguns dias deixaram-se até levar pela empolgação e fizeram dever de casa, jantaram e foram à missa nos horários perfeitamente corretos, dando margem a suposições de que estariam definitivamente curados da rebeldia. Doce engano. Pois o horário de dormir foi drasticamente ignorado, e enquanto a pequena Anne arrastava sua camisola cuidadosamente rumo ao quarto do irmão, Leland ia retirando do baú as folhas e folhas de anotações cuidadosas. Aquelas noites eram preenchidas pela imaginação e a satisfação completa pela simples previsão da futura aventura, aquela que superaria todas as outras, e diante da qual todos ficariam fascinados.

Nas manhãs seguintes, encontravam-se os irmãos adormecidos sobre o tapete, esquecidos da vigilância da babá, rodeados por lápis coloridos e papéis preenchidos pelos mais fantasiosos planos, que voavam pelo quarto, contornando as curvas das paredes, atingindo o lustre e novamente voltando para o chão, leves, a velar o sono e a infiltrarem-se nos sonhos de Leland e Anne.

O tão esperado grande dia transcorreu como de costume: aulas de piano, de costura, lições e exercícios, compromissos sociais, orações antes de dormir. Só não imaginava a babá que, além do Pai Nosso, havia um pedido final, de joelhos: que Deus os guardasse na jornada em busca de tomates roxos e afins na floresta. Depois do amém reforçado pela Sra. Smithee, Leland e Anne sentiram-se perfeitamente protegidos.

Acordaram de madrugada, os corações palpitando de ansiedade e medo. Anne dormira com seu traje especial sob a camisola, bastava tirar a vestimenta de cima e estaria pronta. Aproveitou alguns minutos e ajeitou os cabelos em uma longa trança, sem prendê-la no alto da cabeça como a mãe sempre exigia. Dessa vez seria tudo como eles queriam.

Leland esperava por ela na sala de reuniões, com os mapas e planos amarrados às costas com uma tira de couro que surrupiara dias antes do carpinteiro. Logo que a viu, levou o indicador aos lábios para lembrá-la de que o silêncio era estritamente necessário. Anne, obediente, tanto esforçou-se em fazer nenhum barulho quanto passou a andar em câmera lenta, mordendo os lábios de excitação.

Pularam a janela, atravessaram os jardins. Leland colheu uma rosa, encaixou-a na trança da irmã. Ela virou-se para sorrir-lhe, acabou tropeçando, mas seguiram com cuidado até o final do pátio. Passaram pela passagem escondida do muro de arbustos, abandonaram a mansão enquanto o Sol começava a nascer sobre os campos. Dentro de uma hora de caminhada estariam no destino almejado.

(CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO - UM DIA ACABA...)

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