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5.5.06

Cena 6 – [ apenas uma passagem de tempo, e o incômodo latente nesses dias ]

Os dias que se seguiram transcorreram aparentemente como todos os outros. Em geral, nesses âmbitos dos pequenos dramas cotidianos, a seqüência temporal tende a ser naturalmente repetitiva. Olhares sutis, frases pequenas e vagas ausências indicam, aqui e ali, um tropeço, um franzir de testa, uma expressão mais carregada. A mesma normalidade que volta e meia esmaga certos espíritos; a mesma constância que em um piscar de olhos surpreende, atônita, instintos homicidas – mesmo que apenas parcialmente rebelados.

O Colégio ... é apenas um ponto imaginário a mais nessa trama extensa de repetições e repetições. Ele e seus alunos. E seu pátio, e seus copinhos de café servidos aos pais-pagantes nas fajutas reuniões de classe. Uma mesma corda soa ininterruptamente os mesmos sons, num sonâmbulo passar dos dias. Dias de marianas, de marcelos, de kátias.

Mariana continuava em seu olhar blasé e sua tentativa de tentar ser o que realmente era. Em algumas aulas, às vezes, pegava-se achando-se inteligente, e logo depois alguma outra coisa desviava sua atenção. Compartilhava os recreios e os ares de superioridade com as mesmas Luiza e Bianca, andando com elas da cantina à sala, do espelho do banheiro ao portão fechado, da sala ao corredor, e novamente, e sempre de volta, para a sala. A porta se fechando atrás delas, e o sinal a arranhar toda a escola em sua explosão histérica, como um corte simultâneo nas peles de todos os ali presentes. Em poa parte do tempo, também, ela juntava sua mão à de Marcelo, e discorria sobre amenidades. Às vezes perguntava sobre Leo. E só não perguntava mais porque teria a resposta inevitável: ele não o tinha visto ultimamente. Mas Mariana continuava a sorrir e a andar, a ajeitar os cabelos e a distribuir flashes de sua beleza pelos corredores. Em todas as aulas ela vigiava o corredor através do vidro da porta. Algumas noites, recorreu à mentira para que a socorresse do telefone, mantendo um silêncio sem culpa. Depois tentou, mais uma vez inutilmente, discar aquele número, numa tentativa vã de não ouvir outra negativa. Imaginava, preocupada, onde estaria o menino dos cabelos ruivos; imaginava o que poderia ter acontecido; entristecia-se pelos pais dele nem imaginarem que ele não estava indo às aulas, e por considerarem a normalidade como presente no tempo presente.

E nisso tudo, nesse conjunto simplesmente desprezível, sóis levantaram-se e abaixaram-se ao redor dos muros de concreto do colégio.