O show do Jens Lekman foi muito bom mesmo. Estou lembrando agora porque meu winamp em shuffle me presenteou com "Maple leaves", e ela é tão bonita. Na época eu estava prestes a embarcar para os Estados Unidos. E aquele que eu jurava que era o grande amor da minha vida tinha acabado de terminar o namoro, e eu ia ficar longe dele, mas naquele dia eu ia encontrá-lo lá. E o carinha do Kings of Convenience, cujo nome não me lembro, e acho que não era o Erlend Oye, tinha uma meia de cada cor e foi chato pra caramba pedindo que as pessoas calassem a boca e fizessem silência pra ele cantar.
Bo-ring. E aí o Jens veio depois e mandou todo mundo cantar junto e conversar e fazer barulho, porque afinal aquilo era um show. Aì ele foi aplaudido e o show foi todo bom, e depois fomos tirar foto com ele, e eu disse assim:
"Your voice is so beautiful." E ele disse
"thank you". É, eu sei, um grande diálogo.
Eu amo o Matheus, de verdade, mas às vezes, quando, por exemplo, ouço uma música dessas e tenho vontade de chorar porque além de linda ela me lembra tanta coisa, e não só acontecimentos, mas sentimentos e idéias... - Bom, quando acontecem coisas assim, sempre penso que ele não entende, não entenderia, nunca vai entender. Como Seymour Glass, que jogou a pedra na menina porque ela estava tão linda, e ele sentiu algo tão forte, que jogou uma pedra nela, e todo mundo daquela família maluca entendeu, mas é claro que a menina não. O Seymour ele também não entende. Quando terminei de ler, e encontrei ele no mesmo dia, eu acabei chorando sem querer, e ele só disse que, se era pra eu ficar chorando, que eu não deveria ler. Eu sei, assim soa grosso, mas ele falou pensando em mim, que não queria achar que eu estava triste. E, como eu disse, muitas pessoas não entendem a beleza da tristeza. Não de sentir triste, mas da tristeza, e como ela fica impregnada em tantas coisas, especialmente nas artes. Como podem as pessoas não perceberem isso? Se tantos filmes entre os de mais sucesso são aqueles totalmente dramáticos? Só podem ser as mesmas pessoas que são viciadas em filmes de comédia e em historinhas afins.
Mas eu também comentei que não quero que ele entenda. Que se ele entendesse, eu não ia gostar tanto dele. Ou sim, mas não dessa forma. Pra uma pessoa cheia de dramas, é preciso alguém que realmente não entenda a beleza da tristeza, que ache um absurdo jogar pedras em meninas bonitas. Ok, eu nunca jogaria pedra em ninguém, mas, bem, quem não entende isso, não tem como explicar. Somos muito mais parecidos em personalidade do que em gostos, e isso me surpreende, porque eu nunca pensei que passaria quase um ano namorando um sambista sem que isso causasse qualquer problema entre a gente. Como aquelas pessoas da noite indie, os pseudoalternativos e cult e sei lá mais o quê, que gostam de tudo que eu gosto, mas com quem eu raramente me dava bem. Ele também questionou isso: "Ah, então essas pessoas têm um jeito específico, são todas iguais?" Sim, têm, e eu não gosto delas.
"So we talked for hours, and you cried into my sheets. You said you hated your body, that it was just a piece of meat. I disagreed. I think you're beautiful."
Foi nessa parte que eu quase chorei agorinha há pouco. Além de as palavras serem tão meigas, é também a parte que ele "canta" falando, e eu adoro quando as músicas têm esses momentos assim. E senti um conforto ao imaginar que eu diria isso; seria eu a idiota ali, chorando, e seria ele me dizendo que sou linda, apesar dos defeitos que insisto em ver a todo momento, e seria ele que não me vê dessa forma feia que eu vejo "o mundo" colocar as mulheres.
Bom, vou parar por aqui, sexta começa o Carnaval e espero conseguir fugir do barulho naquele belo reduto de maconheiros. Até lá, ainda tem a semana inteira.