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18.1.06

|| Paralelos ||

Ele acordou mais cedo sem querer. Piscou rápido os olhos; duas vezes. Tentou medir as horas pela claridade da janela.

*


Ela não chegou a acordar aquela manhã, pois não dormiu. Passou a noite toda andando pela casa, do jardim à sala, com a televisão ligada em um canal qualquer. Bebeu vários copos d’água, tentando se convencer que estava bem.


*

Levantou calmo, esticando o corpo preguiçosamente. Percorreu o corredor verificando os quartos: todos dormindo ainda. Na cozinha, ficou encarando o fogão, encostado no armário, esperando a respiração estabilizar, e pensando em fazer café. Mas não fez.

*

Ela chegou a deitar por uns momentos, mas levantou, inquieta. Só às sete da manhã chorou um pouco. E quando se olhou no espelho, viu como estavam vermelhos seus olhos. Olhou-os longamente, sem piscar. Depois enfiou a cabeça na água gelada.
*

À tarde, quando voltou do trabalho, teve um pensamento vago que o fez franzir a testa por uma fração de segundo. Chegou a ir para casa, o mesmo caminho de todo dia. Chegou a atravessar a rua. Chegou a apalpar a calça em busca das chaves. Mas passou direto, o passo constante, sem olhar para trás, ainda com as mãos nos bolsos.

*

Ela não tinha decidido ainda, quando o fez. Estava já maquiada, os cabelos num coque, o buquê ao lado. Batia com a ponta do sapato branco no chão descompassadamente, num ritmo nervoso. Tinha decidido pelo sim, mas de repente se viu abrindo a porta dos fundos, evitando que alguém a visse indo embora. Sentiu o suor começar a percorrer o pescoço quando atingiu o fim da rua e seguiu numa direção qualquer.