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Humberto Costa, em seu aniversário de 53 anos, tomou um fim de semana qualquer e seguiu em seu carro rumo ao nordeste brasileiro, alguma cidadezinha perdida no meio de Sergipe.
Uma massa de nuvens cinzentas preenchia seu coração enquanto o sol se debatia em raios fulminantes sobre a estrada, retorcida indefinidamente em quilômetros e quilômetros de distância. Humberto nem chegou a se sentir bem com a idéia; perturbava-o o destino, e o objetivo. Levou poucas roupas, além de papéis do escritório para adiantar no tempo vago, em alguns quartos de hotel que ocupou no percurso, para descansar da direção. Em 14 horas ele chegou a R...., marcada no mapa com uma caneta vermelha.
Encontrou os mesmos bancos da praça, vazios e empoeirados. Perambulou por algumas poucas ruas que se cruzavam e davam sempre no mesmo ponto. Achou o ar parado, e sentiu náuseas pelo contraste com o constante vento que o seguira durante a viagem.
Chegara à mesma cidade de tanto tempo antes, mas já não a reconhecia.
Finalmente, parou em uma posição qualquer do local e perguntou-se a que se devia aquilo.
Humberto, homem feito e já calvo, estacionou o carro tão bem quanto sempre fazia, e foi até a moça do restaurante barato, em busca de orientação.
A moça, embora descuidada, era bonita, loira, com dentes fortes e amarelados, e os nós dos dedos salientes e inexplicavelmente atraentes. Ela sorria demais, e puxou papo com o estranho, numa atitude de quem não tem muita ocupação o dia inteiro. Ele perguntou como acharia aquela rua, aquele número. A moça inclinou-se mais, pois ele falava tão baixo. Orientou-o com a mais sincera das solicitudes, e olhou-o nos olhos meio que com curiosidade. Claro que perguntou o que ele fazia ali, um moço daqueles bem vestido. Humberto explicou à moça que viera daquele lugar mesmo, muitos anos antes, era sua cidade natal. Passara lá sua juventude e um pouco da idade adulta. Buscava sua casa, mas nenhum parente, pois já não os tinha. Esperou por isso aquele sorriso de companheirismo. Ao contrário, a moça inclinou a cabeça estranhando ele não se lembrar do local de onde viera. Ele a olhou pelos mesmos segundos, mas naquela espera de quem tenta entender a expressão do outro.
Mas a casa, a mesma, os mesmos tijolos, apenas envelhecidos. E as casas ao redor, com suas antenas a mais, uma janela trocada de cor, um portão recoberto de tinta. Era tudo muito mais distante do que ele esperava. Mesmo ali, em frente. Mesmo quase tocando o reboco com a testa suada.
Não demorou muito e retomou a estrada, fingindo ignorar um triste desespero que crescia dentro dele. Escondeu a pasta com os pés para baixo do banco, e alguns quilômetros mais tarde lamentou não ter trazido aquele disco, aquele que ele nunca se lembraria o nome, em que algum momento alguém cantava algo que ele se lembrava mais ou menos como se fosse...:
I'm growing old and I wanna go home.*
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ouvindo Nick Drake, claro