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4.2.06

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Grande loja, metros e metros quadrados rodeados pelo ar condicionado, pelas câmeras; preenchidos por prateleiras, luzes, consumidores. E a pessoa, ao entrar, transforma-se na categoria 'consumidor'. Existe a sessão de crianças. Material escolar. Roupas. Brinquedos. Uma garota, ela não é criança, que perambula pelas prateleiras das crianças. Ela vê as luzes e gosta: são muitas. Muito fortes. Tudo fica claro demais, as coisas começam a perder os contornos. As luzes entram nos olhos, fazem os produtos mais bonitos, mais compráveis. Um rádio emite sons incongruentes de partes desconhecidas ao longo do teto do supermercado. A garota percorre as prateleiras, mera observadora, nada compra. É a prateleira dos brinquedos, um olhar demorado, um passo que se detém. Lembranças, sensações: de gostar de mexer nesses brinquedos na loja. Há um vazio de tempo e de espaço, eles são simultâneos e siameses. Ela pára, fita, contempla. Estão abertos, para serem testados. O primeiro, um telefone de vaquinha. Colorido: vermelho, branco, azul, amarelo, verde. Do botão maior sai uma musiquinha de gosto eletrônico. Ela demora, começa a impregnar no ar, nas prateleiras, nas luzes, no corredor enorme e vazio. Logo embaixo - um ônibus. Colorido. São as mesmas cores. Ao lado de cada passageiro, um botão que pede: try me. Try me. Mais um botão, e uma música conhecida se sobrepõe à anterior, que pelo tempo logo cessa. Logo vão os botões, um após o outro. Mais sons desconhecidos. Melodias com sabor de chip. Hipnose esquisita, sob as luzes do mercado. Embaralham-se. Os brinquedos, parados, inocentes e coloridos, fingem de nada saber. Botões, botões, botões. A vaquinha colorida, um piano de dez teclas, um ônibus com carinhas desenhadas. Todos parados, cúmplices da algazarra de notas agudas previamente definidas pelas empresas de brinquedos. Aos poucos, uma a uma, elas vão parando. Os brinquedos fingem inocência, retornam a seus postos, mesmo sem terem saído do lugar.

Silêncio. Luzes fortes. Caixas uma ao lado da outra, na mesma posição. Um corredor vazio e branco de luz, uma garota, passo após passo, uma bobagem de dois minutos. Percorre o espaço vazio; novas prateleiras. Novamente a vaguidão e o tempo, e do tempo.