Cena 9 – [ Interlúdio ]
No dia seguinte, Mariana tentou incluir-se na regra geral de que todo movimento artístico é uma reação ao anterior. Traduzindo, quer dizer que quando se sente algo de incômodo, busca-se sempre combater esse incômodo pelo seu contraste, ou pela oposição de algo adjacente, em caso de impossibilidade de inversão do incômodo em si. Essa reação em oposição deu-se em bobagens do tipo: em vez de abaixar os olhos ou olhar sempre para a frente enquanto adentrava o colégio, Mariana respondia os olhares fitando cada pessoa da forma mais insistente que conseguia. Como a dizer: “Está olhando o quê? Eu sei muito bem que é você o culpado por todos os problemas da minha vida. Saia da minha frente agora ou eu enfio um sorvete na sua testa.”
Ela subitamente se descobriu com raiva daquele barulho infernal na entrada do clégio, bem às sete horas da manhã. Se descobriu com raiva de tudo e de todos. E nem sabia exatamente por quê. Nem pensou na possibilidade de se dar ao trabalho de descobrir.
Em vez de tomar posse do seu cativo lugar ao lado de Bianca e Luiza, sentou bem na última fileira de cadeiras. Colocou os pés sobre a cadeira da frente, e abriu um livro à sua frente. “O apanhador no campo de centeio”, exibia em letras garrafais a capa cinza. Ela não tinha lido uma única palavra, mas achou de bom grado fingir que lia. Mais um motivo para ninguém importuná-la no momento.
O professor do primeiro tempo ensinava biologia. Com seus óculos de tartaruga, ficava parado lendo o livro e, ocasionalmente, levantava o rosto e fazia comentários adicionais que em nada acrescentavam. Ele lia: “Na inibição enzimática do tipo competitivo, o inibidor, mantido em concentração constante, exerce seu efeito com maior intensidade em concentrações baixas de substrato”. E acrescentava: “Então, pessoal... inibição do tipo com-pe-ti-ti-vo. O inibidor... constante... tem sua ação... não é mesmo?... substrato em baixa quantidade”. Alguns alunos chegavam a empreender um maior esforço de atenção, esperando uma elucidação da leitura, e logo depois fechavam a boca, em desapontamento.
Mariana tentava se concentrar na primeira frase do seu livro, mas só conseguia ouvir:
“...com o aumento da concentração do substrato, devido ao efeito competitivo, a inibição tende a diminuir. Dessa forma, em excesso de substrato, a velocidade máxima de reação é a mesma na ausência ou na presença do inibidor...”.
Ela fechou o livro. Cruzou a sala. Abriu a porta. E saiu dali.
Seguindo pelo corredor, ela entrou no banheiro feminino: vazio. Os azulejos branquinhos deram-lhe boas vindas e disseram “nós te aceitamos, fique à vontade”. Dirigiu-se à última cabine, fugindo do seu reflexo no espelho ao longo da parede. Trancou a porta, abaixou a tampa do vaso sanitário, e acomodou-se calmamente, os pés em uma parede e os ombros encostados na outra. Tinha consigo um telefone celular, um relógio e um livro, não precisava de mais nada, nem de comida. (Muito menos de comida). Fechou os olhos e preparou-se para esperar o tempo passar.
Ela subitamente se descobriu com raiva daquele barulho infernal na entrada do clégio, bem às sete horas da manhã. Se descobriu com raiva de tudo e de todos. E nem sabia exatamente por quê. Nem pensou na possibilidade de se dar ao trabalho de descobrir.
Em vez de tomar posse do seu cativo lugar ao lado de Bianca e Luiza, sentou bem na última fileira de cadeiras. Colocou os pés sobre a cadeira da frente, e abriu um livro à sua frente. “O apanhador no campo de centeio”, exibia em letras garrafais a capa cinza. Ela não tinha lido uma única palavra, mas achou de bom grado fingir que lia. Mais um motivo para ninguém importuná-la no momento.
O professor do primeiro tempo ensinava biologia. Com seus óculos de tartaruga, ficava parado lendo o livro e, ocasionalmente, levantava o rosto e fazia comentários adicionais que em nada acrescentavam. Ele lia: “Na inibição enzimática do tipo competitivo, o inibidor, mantido em concentração constante, exerce seu efeito com maior intensidade em concentrações baixas de substrato”. E acrescentava: “Então, pessoal... inibição do tipo com-pe-ti-ti-vo. O inibidor... constante... tem sua ação... não é mesmo?... substrato em baixa quantidade”. Alguns alunos chegavam a empreender um maior esforço de atenção, esperando uma elucidação da leitura, e logo depois fechavam a boca, em desapontamento.
Mariana tentava se concentrar na primeira frase do seu livro, mas só conseguia ouvir:
“...com o aumento da concentração do substrato, devido ao efeito competitivo, a inibição tende a diminuir. Dessa forma, em excesso de substrato, a velocidade máxima de reação é a mesma na ausência ou na presença do inibidor...”.
Ela fechou o livro. Cruzou a sala. Abriu a porta. E saiu dali.
Seguindo pelo corredor, ela entrou no banheiro feminino: vazio. Os azulejos branquinhos deram-lhe boas vindas e disseram “nós te aceitamos, fique à vontade”. Dirigiu-se à última cabine, fugindo do seu reflexo no espelho ao longo da parede. Trancou a porta, abaixou a tampa do vaso sanitário, e acomodou-se calmamente, os pés em uma parede e os ombros encostados na outra. Tinha consigo um telefone celular, um relógio e um livro, não precisava de mais nada, nem de comida. (Muito menos de comida). Fechou os olhos e preparou-se para esperar o tempo passar.
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